Eu não
estava preparada psicologicamente pra esse livro, definitivamente não estava,
acho que se eu olhar bem pro meu exemplar, dá pra ver o quão molhado ficou após
eu chorar taaaanto! Falar, ler sobre escravidão é sempre muito doloroso pra
mim, quando solicitei essa obra não fazia ideia de como a autora iria tratar
esse tema de modo tão meticuloso e iria mergulhar tão profundamente em cada um
dos aspectos da escravidão.
Effi
e Esi são irmãos, mas não fazem ideia disso, nunca se encontraram, uma não sabe
da existência da outra, mas passam por processos dolorosos bastante parecidos,
cada qual sofre com a escravidão de um modo diferente, mas ambas sofrem na
carne a dor por ser negra.
Effi
sempre sofreu muito, nascida na aldeia, filha de um homem respeitado a garota é
odiada por sua "mãe" mulher essa que faz coisas horríveis com ela,
desde violência física até joguinhos psicológicos, a garota é ingênua e se
deixa levar, aqui pode-se ver o ponto alto da maldade do ser humano, a mulher
foi capaz de arruinar o casamento de Effi para que ela não ocupasse um lugar de
prestígio na aldeia, fazendo com que a garota fosse vista como
"doente" por muitos moradores e desse modo ela acaba sendo vendida
aos ingleses. As coisas melhoram de certo modo, se casando com um grande homem
inglês ela passa a viver em um confortável castelo, tem um filho, ocupa uma
posição de privilégio em relação à tantas outras mulheres negras.
Esi por
outro lado, não tem muita sorte, sempre vista como o contrário de Effi, ela é
dona de uma beleza única, amada por todas e muito bem tratada por sua mãe,
prometida a um casamento que tinha tudo para dar certo é raptada após um ataque
em sua aldeia. Ela é levada para um dos calabouços do Castelo de Cape Cost e
sofrerá em condições precárias, sua irmã Effi vive no conforto desse castelo,
enquanto Esi vive no calabouço, essa ironia chega a ser triste.
Sendo
assim, Esi é levada por um navio negreiro para ser então feita de escrava do
homem branco de poder aquisitivo eurocentrado. Tudo isso é triste demais e esse
é o pano de fundo do início da história, narrada de modo inovador, como se
fossem contos que se interligam, você acompanha como a venda dos corpos negros
se iniciou, como as mulheres foram sexualizadas e como o homem branco apagou e
silenciou a negritude.
O livro é
MUITO cansativo, pesado, demorei tempo demais para lê-lo, hora porque não
aguentava ler todas aquelas agressões aos negros, hora porque a narrativa em si
era cansativa. A história foi muito proveitosa, me fez refletir sobre muitos
aspectos mas fica a dica, leia se tiver estômago, esse livro é quase um soco.
"-Os brancos têm escolhas. Eles podem escolher o emprego, escolher a casa. Eles podem fazer filhos negros e depois desaparecer como se nunca tivessem estado por ali, pra começo de conversa. Como se essas negras com quem eles tinham ido pra cama ou que tinham estuprado tivessem dormido consigo mesmas e ficado grávidas. Os brancos também escolhem pelos negros. Antes, eles os vendiam. Agora, simplesmente mandam pra cadeia, como fizeram com meu pai, pros negros não poderem estar com os filhos. Pra mim, é de partir o coração te ver, meu filho, neto do meu pai, aqui com esses bebês andando pra lá e pra cá no Harlem que mal sabem teu nome, muito menos conhecem teu rosto. Só consigo pensar que não é assim que devia ser. Tem coisas que você não aprendeu comigo, coisas que são do teu pai, mesmo que não o conheça, coisas que ele aprendeu com os brancos. Fico triste de ver meu filho, drogado, depois de todo o meu esforço, mas fico ainda mais triste de te ver achar que pode ir embora, como teu pai foi. É só você não parar de fazer o que faz, e o branco não precisa fazer mais nada. Ele não precisa te vender, nem te pôr numa mina de carvão para ser teu dono. Ele é teu dono desse jeito mesmo, e ele vai dizer que você é o responsável. Vai dizer que a culpa é tua."
Willie e Sonny, (p. 388-389).
Título: O Caminho de Casa
Autora: Yaa Gyasi
Editora: Rocco
Nº de Páginas: 448
Sinopse: "Nascida em Gana e criada nos Estados Unidos, a jovem Yaa Gyasi tornou-se um dos nomes mais comentados na cena literária norte-americana em 2016. Seu romance de estreia, O caminho de casa, recebeu resenhas estreladas dos mais importantes jornais e revistas do país, alcançou a disputada lista dos mais vendidos do The New York Times, foi incluído na prestigiosa lista dos 100 livros notáveis do ano do mesmo jornal e arrebanhou o prêmio PEN/Hemingway de melhor romance de estreia. Com uma narrativa poderosa e envolvente que começa no século XVIII, numa tribo africana, e vai até os Estados Unidos dos dias de hoje, Yaa mostra as consequências do comércio de escravos dos dois lados do Atlântico ao acompanhar a trajetória de duas meias-irmãs desconhecidas uma da outra, e das gerações seguintes dessa linhagem separada pela escravidão"
*Exemplar cedido em parceria com a editora.