Precisei de alguns dias para digerir a leitura desse livro e
finalmente resenhá-lo, apesar de lê-lo após ver a série, o impacto não foi
menor. Margaret Atwood certamente foi um dos grandes nomes do ano de 2017 e fez
por merecer, com dois livros adaptados para séries, tudo conspira para que em
2018 ela se torne ainda maior. Podemos observar qual é a sua intenção em cada
livro, se em Vulgo Grace (que inclusive já tem resenha, AQUI) a intenção era mostrar como mulheres eram tratadas no
passado, em O conto da Aia a intenção é levar o leitor a refletir como as
mulheres podem ser tratadas em um futuro não muito distante, e meus amigos...
Que livro!
Offred é
uma Aia, basicamente ela é uma incubadora humana, é assim que as mulheres são
tratadas nessa sociedade fundamentalista, cada mulher desempenha um papel e
isso varia de acordo com o seu status. Offred é uma Aia então ela basicamente
serve como meio de reprodução, sendo assim, cada família de bom poder
aquisitivo possui uma Aia em casa, em determinados dias acontece o ritual onde
Aia, esposa e marido se unem em uma sala, rezam e então fazem sexo com o único
intuito de procriar. Se você acha que isso é indício para uma orgia está redondamente
enganado, as Aias são colocadas entre as pernas das esposas, dessa forma estão
"ligadas" e são uma só, então o marido tem a relação com a Aia,
enquanto a esposa assiste, para que fique claro que o único motivo desse ritual
todo é seguir o papel que Deus designou para cada um e para que assim novas
crianças venham povoar a terra.
Por mais
assustador que isso tudo pareça, no decorrer do livro vamos entendendo o motivo
para essa sociedade se encontrar nessa situação, após uma espécie de peste horrível,
mulheres se tornaram inférteis, houve um golpe de governo e todos os direitos
das mulheres foram retirados, por mais cruel que isso possa parecer aqui fica
bem claro que se você quer tomar uma sociedade, comece congelando o seu
dinheiro, deixando-os assim de mãos atadas. O que parecia ser uma medida de
emergência logo mostrou-se ser um golpe onde um novo modelo de Estado foi
implantado.
Nós não
sabemos o nome verdadeiro de Offred, qualquer coisa sobre o seu passado não
pode mais ser mencionado, as poucas pistas que temos são as que ela solta
enquanto conta a sua história, desse modo sabemos que seu esposo conseguiu
escapar e sua filha também, mas o mundo "antes" de tudo isso não pode
mais existir, tanto é que seu nome é uma combinação com o dono da casa em que
ela reside.
Acontece
que de uma coisa sabemos muito bem, Offred é uma mulher forte, que apesar de
ter se tornado uma escrava do seu país, jamais deixou de formular suas opiniões
ou de sonhar com uma vida além disso, no início da leitura achei que ela fosse
uma coitada que já havia aceitado as coisas, mas isso não acontece, ela é
forte, destemida, questiona os direitos das mulheres e lança uma importante
dúvida: Quando as mulheres deixaram de ser seres humanos e se tornaram
incubadoras? E se você pensa que isso se restringe apenas ao livro, pense nas
leis referentes ao aborto e veja como essa obra é atual.
É claro que
há um romance no livro, obviamente Offred aos poucos vai ganhando a confiança
do dono da casa, mas acho que o que de fato merece notoriedade no livro é a
união das mulheres, as Aias nos centros de treinamento se ajudavam, após serem
transferidas para casas ainda dão um jeito de criar uma rede de informações,
tudo buscando mostrar que mesmo escondidas, elas ainda resistem.
Eu vi a série
antes do livro e achei que isso fosse interferir minha leitura, que nada! A
produção foi fiel ao livro e isso me deixou espantada, a atriz escolhida para
interpretar a personagem principal tem um ar de mulher independente que corta o
papel de submissa interpretado pelas Aias e mostra como o lugar da mulher é
onde ela quiser! Uma obra pra lá de necessárias, cheia de citações que parecem
socos no estômagos mas que nos deixam temerosos a respeito de por onde caminha
a humanidade.
Título: O Conto da Aia
Autora: Margaret Atwood
Editora: Rocco
Nº de Páginas: 368
Sinopse: "Escrito em 1985, o romance distópico O conto da aia, da canadense Margaret Atwood, tornou-se um dos livros mais comentados em todo o mundo nos últimos meses, voltando a ocupar posição de destaque nas listas do mais vendidos em diversos países. Além de ter inspirado a série homônima (The Handmaid’s Tale, no original) produzida pelo canal de streaming Hulu, o a ficção futurista de Atwood, ambientada num Estado teocrático e totalitário em que as mulheres são vítimas preferenciais de opressão, tornando-se propriedade do governo, e o fundamentalismo se fortalece como força política, ganhou status de oráculo dos EUA da era Trump. Em meio a todo este burburinho, O conto da aia volta às prateleiras com nova capa, assinada pelo artista Laurindo Feliciano."
*Exemplar cedido em parceria com a editora.