Eu procuro
fugir um pouquinho de livros com o hype nas alturas, sinto que minhas
expectativas não serão atendidas e que não o adquiri porque queria e sim porque
vi todos a minha volta lendo. Foi isso que aconteceu com Tartarugas até lá
embaixo, demorei um tempão para comprá-lo porque minha lista de não lidos segue
enorme e eu sentia que o livro poderia não ser tudo isso, acontece que eu dei
com os burros n'água, me achei nessa leitura, me vi em Aza, senti que ela era
parte dos meus pensamentos, a minha conexão com a personagem foi além de
qualquer expectativa já criada, então a resenha de hoje tem um tom um pouquinho
mais íntimo.
Aza Holmes
é uma estudante quase normal do ensino médio, quase porque sua cabecinha é um
pouquinho diferente, ela tem TOC, sendo assim, os pensamentos compulsivos
ocupam grande parte de sua mente e as vezes existir é motivo para surtar. Aza
tenta levar uma vida normal, com uma melhor amiga bem compreensiva, tenta
superar a morte do pai, levar uma vida normal na escola... Mas a vida de quem
tem TOC não é normal. Então, quando o milionário Russell Picket some
misteriosamente e oferecem uma recompensa, tanto Aza quanto sua melhor amiga se
empenham em encontrar o cara e de quebra ficarem ricas, só não esperavam tantos
empecilhos no caminho.
"Qualquer um pode olhar para você, mas é muito raro encontrar quem veja o mesmo mundo que o seu."
Agora
falando de peito aberto pessoal, vi muita gente reclamando que a história
parecia rasa, que o foco inicialmente era o sumiço e a busca pela recompensa e
que isso não foi de fato satisfatório, mas por favorzinho, vamos olhar por
outro lado! Quantas pessoas com Transtorno Obsessivo Compulsivo você conhece?
Quantos protagonistas que dão voz aos seus demônios vocês conhecem? Me vi
acostumada a uma linha de livros que sempre acontece da mesma maneira, um
problema a ser resolvido e/ou superado, um romancinho no meio e um final
coerente. Mas Aza não é isso, Aza é maior, Aza é pura compulsão e medo. Ter
pensamentos compulsivos não é nada fácil e falo isso com conhecimento de causa.
É deixar de sair, deixar de beber um simples copo de água, tudo é tão mais
impactante, todo sofrimento é antecipado, cada pensamento é um parto, pensar
dói e parar nossa mente é impossível, é quase viver uma luta constante consigo
mesmo. Essa foi uma das poucas vezes que um autor falou de mim tão bem, tão
abertamente e de maneira tão certeira, a protagonista é uma personagem real,
suas crises são as minhas crises, eu me senti Aza.
A história
no geral é muito bem construída, essa busca pelo milionário foi uma boa ideia
por parte do autor, o maior prêmio que Aza pode ter é aprender a lidar com seus
pensamentos. Daisy é uma melhor amiga muito fofa e compreensiva, o romance
presente na obra também é lindo de ver crescer mas creio que esse não tenha
sido o foco, o eixo aqui é Aza, seu comprometimento com suas causas e sua mente
e isso certamente foi alcançado.
Suspirei,
arfei, chorei mas finalmente me vi, de maneira crua e nada romantizada. Nem só
de romance pra chorar vive John Green, obrigada por me tornar real mesmo que na
literatura.
"Um dos desafios da dor, seja física ou psíquica, é que só conseguimos nos aproximar dela através de metáforas. Não temos como representá-la como fazemos com uma mesa ou um corpo. De certo modo, a dor é o oposto da linguagem."

Título: Tartarugas Até Lá Embaixo
Autor: John Green
Editora: Intrínseca
Nº de Páginas: 256
Sinopse: "Depois de seis anos, milhões de livros vendidos, dois filmes de sucesso e uma legião de fãs apaixonados ao redor do mundo, John Green, autor do inesquecível A culpa é das estrelas, lança o mais pessoal de todos os seus romances: Tartarugas até lá embaixo. A história acompanha a jornada de Aza Holmes, uma menina de 16 anos que sai em busca de um bilionário misteriosamente desaparecido – quem encontrá-lo receberá uma polpuda recompensa em dinheiro – enquanto lida com o transtorno obsessivo-compulsivo(TOC). Repleto de referências da vida do autor – entre elas, a tão marcada paixão pela cultura pop e o TOC, transtorno mental que o afeta desde a infância –, Tartarugas até lá embaixo tem tudo o que fez de John Green um dos mais queridos autores contemporâneos. Um livro incrível, recheado de frases sublinháveis, que fala de amizades duradouras e reencontros inesperados, fan-fics de Star Wars e – por que não? – peculiares répteis neozelandeses."