Para quem
não sabe o Grupo Editorial
Record está com o selo de publicações feministas Rosa dos
Tempos e pra mim esse é um dos melhores projetos da editora, nada mais justo
que publicar obras desse cunho, e que de certo modo acabaram sendo esquecidas
pelo mercado editorial. Maya Angelou nunca havia sido traduzida, apesar de ser
a única obra escrita por ela, por algum motivo que não entendo, poucas pessoas
conheciam. Eu sou um desses casos e fico feliz que a editora tenha mudado essa
situação, conhecer um pouquinho sobre Maya e sua relação com sua mãe
definitivamente me fez ver o mundo de maneira completamente diferente da que eu
encarava, e me fez acreditar que o feminismo muitas vezes é de sangue sim,
principalmente quando se trata de mulheres negras.
A obra
basicamente vai falar sobre a relação de Maya com sua mãe, sem qualquer tipo de
floreio e coisas do tipo, Vivian não era uma mulher fácil de lidar, vez ou outra
o amor entre as duas beirava algo perigoso e de difícil julgamento, mas quando
mulheres negras ousam existir em ambientes onde são cotidianamente silenciadas,
é isso que acontece. Maya viveu parte de sua infância com sua avó e depois de
crescida conheceu sua mãe, esse primeiro contato foi bastante complicado, a
autora demorou muito tempo para até mesmo se sentir confortável em seu novo
lar, chamar Vivian Baxter de mãe então... Algo que emociona até mesmo quem lê,
quando isso é relatado.
Eu não
fazia ideia de que esse livro me emocionaria tanto, acompanhar a trajetória de
Maya por meio da sua convivência com a mãe é uma maneira genial de mostrar como
mães negras tem uma forma diferente de criar seus filhos, para além de todo o
processo de ensinamento, é preciso preparar essas crianças para o racismo que
está enraizado em nossa sociedade, é preciso torná-los fortes antes mesmo de
crescerem, isso soa doloroso, mas é bastante real. O amor entre as duas é puro
e maravilhoso de se ler, Vivian está presente em todos os momentos importantes
da vida de Maya, sendo eles bons ou não, ela estendeu a mão para a filha em
todas as situações, seja quando a mesma engravidou, decidiu morar fora e até
mesmo quando ela foi vítima de um relacionamento abusivo e esteve à beira da
morte. Em momento algum a mãe de Maya pareceu ter medo, ela sempre enfrentou
tudo com muita bravura e a impressão que tive é que apesar disso ser algo
natural dela, ela fazia porque sabia que precisava ser forte para que Maya aguentasse
a situação também. Vivian existia como um trampolim para que a filha pudesse
realizar seus sonhos.
Maya tem
uma maneira muito sincera de escrever, até mesmo quando não concordava com
algumas coisas sobre sua mãe ela não maneirou nas palavras, creio que mostrar
os pontos fracos de alguém que você ama, e ainda assim seguir amando
incondicionalmente é uma maneira primorosa de demonstrar que o amor materno é
maior que tudo. A edição é super curtinha e você lê em pouquíssimo tempo,
apesar disso são diversos temas tratados, desde racismo, machismo,
relacionamento abusivo e dificuldades da época. Uma leitura que definitivamente
vale a pena.
"Você foi uma trabalhadora incansável - graças a você, mulheres brancas, negras e latinas zarpam do porto de San Francisco. Você foi chapeadora naval, enfermeira, agente imobiliária e barbeira. Muitos homens e - se não me falha a memória - algumas mulheres arriscaram a vida para amá-la. Nunca existiu pessoa mais grandiosa do que você. Você foi uma péssima mãe de crianças pequenas, mas nunca houve uma mãe de adolescentes melhor do que você."

Titulo: Mamãe & Eu & Mamãe
Autora: Maya Angelou
Editora: Rosa dos Tempos
Nº de Páginas: 176
Sinopse: "Último livro publicado pela poeta e ativista, Maya Angelou, Mamãe & Eu & Mamãe descreve seu relacionamento conturbado com a mãe, a empresária Vivian "Lady" Baxter, com quem voltou a morar aos 13 anos, depois de dez sob os cuidados da avó paterna. É a jornada de uma mãe e filha em busca de reconciliação assim como uma reveladora narrativa de amor e cura."
*Exemplar cedido em parceria com a editora.