Essa obra
faz parte do projeto Setembro Amarelo que
tem como finalidade promover um debate saudável sobre transtornos mentais,
suicídio e maneiras para preveni-lo.
Li O último
adeus tem um bom tempo, mas nunca tive coragem de resenhá-lo, a impressão que
sempre tive, é que esse livro é grande demais para caber em uma simples
resenha, ele é intenso, te leva por um mar de sentimentos e no final te
arrebenta, sem questionar se você é forte o suficiente para aguentar. A obra se
tornou tão importante pra mim que hoje é meu objeto de pesquisa na faculdade, é
meu corpus de análise e por meio dela, tento trilhar um caminho na intenção de
compreender o suicídio, luto e o uso de diários na literatura. Compreender a
essência desse livro, é mergulhar de certo modo, na vida pessoal da autora
também, mas para isso, precisamos entender um pouquinho mais sobre a história.
Lex tinha
tudo para ser o orgulho da família, está no último ano da escola, é um
verdadeiro gênio da matemática, um futuro promissor, isso se seu irmão não
tivesse cometido suicídio. Tyler se matou com um rifle de caça, na garagem de
casa, deixando apenas um recado em um post it amarelo onde dizia: “Desculpa,
mãe, mas eu estava muito vazio”. Lex se sente culpada, inicialmente não
entendemos o motivo mas isso é totalmente plausível, a narrativa se dá devido a
isso. Seu terapeuta Dave, tentou de outros modos fazer com que sua paciente
falasse e não funcionou, então em uma tentativa diferente, pede para que ela
escreva em uma caderno Moleskine sobre seu irmão Tyler, seja sobre os momentos
felizes, sua raiva, qualquer coisa, Lex só precisa escrever.
É
justamente aí que a história começa a ganhar corpo, a narrativa se intercala
entre a Lex do presente, tentando sobreviver ao luto, buscando formas de ajudar
sua mãe, que também se afundou nessa fase, e aqui é necessário fazer um
recorte, a impressão que tive foi de que os papéis se inverteram, com a morte
de Ty, a mãe de Lex se tornou uma criança, não se alimentava, chorava muito,
insistia em dormir no quarto do filho e com as roupas dele, tudo muito triste, então
além de tentar superar a morte do irmão, a protagonista assume o papel de mãe
de sua própria mãe, confuso, né? Pois bem, a narrativa mostra a Lex do
presente, passando por essa situação, e trechos de seu diário, onde ela tenta
falar sobre seu irmão, nunca sobre o dia de sua morte, sempre outras
coisas.
No começo,
eu achei que Lex não conseguia falar sobre o dia da morte do irmão por não
estar preparada, e de certa forma é exatamente isso, mas ela também se sente
culpada. Conforme vamos acompanhando seu diário, percebemos que Tyler sempre
deu os sinais de que precisava de ajuda, antes de se matar se afastou de
amigos, terminou um relacionamento, parecia sempre deprimido, tentou se matar
com remédios. Contrariando aquele velho tabu de que suicidas nunca dão sinais
ou pedem ajuda, Ty era uma adolescente que pediu socorro, mas foram situações
tão pequenas e pontuais, que muita gente ao seu redor não deu a devida
importância.
Como
sabemos, a Darkside é conhecida como uma das maiores editoras de terror, e nessa
obra a coisa não foi diferente, a introdução do elemento fantástico acontece de
maneira bem peculiar, tanto Lex quanto sua mãe começam a achar que o fantasma
de Ty está pela casa, rondando, com seu cheiro, deixando pistas, tudo para que
não seja esquecido, isso certamente acaba dificultando o processo do luto.
A obra fala
muito sobre o luto dos familiares, e sobre o processo de Ty até o suicídio, é
bastante doloroso ler os relatos da mãe, falando sobre como é ruim perder o
filho, e ver Lex se vendo como culpada, abandonando seus sonhos porque a culpa
a engole por completo.
Talvez esse
seja o livro mais obrigatório de todo o projeto, é uma história sobre o cuidado
que devemos ter com quem está por perto, como devemos oferecer nosso ombro
amigo em qualquer momento, porque nunca saberemos quando será O último adeus.
Uma
curiosidade sobre a obra e a autora, é que seu irmão se suicidou aos 17 anos
também, ela afirma que a obra é extremamente ficcional, mas aos meus olhos, foi
o modo que ela encontrou para falar sobre esse período tão difícil. Sobre a
parte estética do livro, a fonte usada no livro, e a cor, tentam imitar o uso
de uma caneta BIC, como a usada no bilhete de Tyler, a capa é repleta de post
is pelo mesmo motivo.
"Eu não estava prestando atenção. Estava ocupada demais sendo a protagonista do meu próprio filme, enquanto meu irmão estava em algum lugar lá fora aquela noite, no escuro, sofrendo. E 17 dias mais tarde, ele estava morto."
Título: O Último Adeus
Autora: Cynthia Hand
Editora: Darkside
Nº de Páginas: 352
Sinopse: "O Último Adeus é narrado em primeira pessoa por Lex, uma garota de 18 anos que começa a escrever um diário a pedido do seu terapeuta, como forma de conseguir expressar seus sentimentos retraídos. Há apenas sete semanas, Tyler, seu irmão mais novo, cometeu suicídio, e ela não consegue mais se lembrar de como é se sentir feliz. O divórcio dos seus pais, as provas para entrar na universidade, os gastos com seu carro velho. Ter que lidar com a rotina mergulhada numa apatia profunda é um desafio diário que ela não tem como evitar. E no meio desse vazio, Lex e sua mãe começam a sentir a presença do irmão. Fantasma, loucura ou apenas a saudade falando alto? Eis uma das grandes questões desse livro apaixonante. O Último Adeus é sobre o que vem depois da morte, quando todo mundo parece estar seguindo adiante com sua própria vida, menos você. Lex busca uma forma de lidar com seus sentimentos e tem apenas nós, leitores, como amigos e confidentes."