Esse ano nós somos parceiros da SESI-SP Editora, e não há prazer maior do que poder compartilhar o olhar sobre uma
literatura tão bem produzida, o nosso primeiro pacotinho veio recheado de amor
e representatividade. Luana, que cuida das parcerias teve o carinho de me
mostrar essas edições maravilhosas e me enviar, porque sabia da minha alegria
em receber essas duas obras. A experiência de leitura foi enriquecedora para a
caminhada porque entendi como o descobrimento e o entendimento sobre questões raciais
são processos, nem sempre fáceis, mas sempre repletos de muita reflexão.
O primeiro livro recebido foi Quando me descobri
Negra, da Bianca Santana, eu não conhecia a obra e quando recebi meu coração
ficou quentinho, o cuidado com a edição é algo que poucas vezes vi na vida, desde
a capa cheia de representatividade, até as folhas, o formato e as ilustrações
que carregam uma ancestralidade capaz de nos proporcionar uma força além do
esperado. A obra é curtinha, do tipo que você lê em uma sentada mas eu preferi
ler aos pouquinhos, um texto por dia, porque sabia que é o tipo de obra para se
degustar. Mastiguei cada texto aos pouquinhos e absorvi tudo o que podia. São
textos que refletem a realidade do negro no Brasil, seja no ambiente acadêmico
ou em uma simples situação cotidiana, Bianca vai destilando todo o ardor que é
ser negro, sem nunca deixar-se de mostrar orgulhosa por ser quem é. Esse é um
livro empoderador e que eu adoraria ter lido quando adolescente, passar pelo
processo de transição e de reconhecimento enquanto pessoa negra não é nada fácil,
é um mundo perdido e que você precisa desbravar muitas vezes sozinha, mas agora
sei que existem autores como Bianca, prontos para te mostrar o caminho, colocar
o dedo na ferida e demonstrar que o problema não é você, o seu cabelo, o
estereótipo, o problema são os outros, o racismo estrutural e tudo o que nos
acomete. Essa é uma obra que recomendo e que definitivamente irei presentear
minhas amigas, Bianca me deu um abraço de irmã, recheado por ancestralidade e a
certeza de que não estamos sozinhas.
A segunda obra que recebi foi O diário de
Bitita, escrito por Carolina de Jesus, a minha primeira experiência com a
autora foi lendo Quarto do despejo, obra essa que nunca tive coragem de
resenhar por aqui de tanto que me marcou. Sabe quando você encontra o livro da
sua vida e sente que nenhum elogio será suficiente? É isso que acontece com
Quarto do despejo, assim que comecei a ler O diário de Bitita percebi como eu queria
que esse livro em especial fosse a minha primeira experiência com a autora,
para entender muito do que Carolina foi em Quarto do despejo, é preciso ler
Diário de Bitita, sabe por que? O livro foi publicado primeiro na França e depois
no Brasil, é um relato autobiográfico um pouco mais intimo que Quarto do
despejo pois a autora fala intimamente de sua vida desde a infância, até os
tempos para além de suas outras obras, vamos conhecer aqui Bitita, a menina
chorona e que ninguém aguentava por perto, a criança que queria ser homem pois
assim seria respeitada, a adolescente audaciosa e que demorou a entender porque
ser negro é sofrer duas vezes. Carolina quando pequena, achava que seu nome era
Bitita, quando descobriu que não era, percebeu que se abriu para um novo mundo.
“Quando havia um conflito, quem ia preso era o negro. E muitas vezes o negro estava apenas olhando.”
Sempre observadora e sem medo de questionar, vamos encontrar aqui um relato
sincero e sem meias palavras, percebe-se que a intenção da autora não era
agradar, não era falar sobre racismo e muito menos diminuir a culpa das pessoas
que passaram por sua vida. Carolina quis contar a sua história e ponto, isso
basta, é forte e poderoso. Eu me apaixonei por esse livro desde suas notas iniciais,
sobre a demora da publicação, os motivos e o fim de Carolina, até a última
página, tudo foi muito especial. Carolina não era uma criança como as outras,
ela não era somente curiosa, era única, já pequena era questionadora, tentava se
impor, e o tempo todo observava as coisas ao seu redor, sempre tentando
entender as injustiças do mundo. Essa obra é uma descrição crua e verdadeira de uma autora que
infelizmente morreu do mesmo modo que se tornou famosa, na miséria. Carolina
não teve o reconhecimento que merecia na época e muito me alegra que a editora
SESI-SP tenha se atentado para a necessidade dessa obra. É necessário ler
absolutamente tudo dessa autora para entender a condição do negro no Brasil,
como o racismo abala até mesmo a nossa saúde mental e para além disso,
questionarmo-nos porque a literariedade de uma mulher tão necessária ao mundo,
por muito tempo foi ignorada.
Essas são duas obras que eu inquestionavelmente
indico para toda e qualquer pessoa que queira uma leitura que mexa com o coração
e a mente, ler ambas as autoras é questionar o seu lugar o mundo e a forma que
você o ocupa. Leia Bianca, leia Carolina, mas acima de tudo, permita que outras
delas floresçam e resistam em tempos tão sombrios como esse.
Título: Quando me descobri negra
Autora: Bianca Santana
Editora: SESI-SP
Nº de Páginas: 96
Sinopse: "'Quando me descobri negra fala com sutileza e firmeza de um processo de descoberta inicialmente doloroso e depois libertador. Bianca Santana, através da experiência de si, consegue desvelar um processo contínuo de rompimento de imposições sobre a negritude, de desconstrução de muros colocados à força que impedem um olhar positivo sobre si. Caminhos que aos poucos revelam novas camadas, de um ser ressignificado. Considero este livro um presente, é algo para se ter sempre às mãos e ir sendo revisitado. Bianca, ao falar de si, fala de nós.'' - Djamila Ribeiro.
Título: Diário de Bitita
Autora: Carolina Maria de Jesus
Editora: SESI- SP
Nº de Páginas: 208
Sinopse: Um romance muito forte, com imagens muito trabalhadas, sobre a vida no negro no início do séc. XX. As primeiras escolas surgiam, e o racismo estava impregnado naquela cultura de uma forma mais explicita que hoje: “No ano de 1925, as escolas admitiam alunas negras. Mas quando as alunas negras voltavam das escolas, estavam chorando. Dizendo que não queriam voltar à escola porque os brancos falavam que os negros eram fedidos.”*Obras cedidas em parceria com a editora.
Tudo bem? Parabéns pela parceria. Não conhecia os livros, mas fiquei bem curiosa com O diário de Britta. Leitura e que mexem com o coração geralmente são muito bem vindas. Beijos.
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirNão conhecia a editora. Esse segundo livro, se não fosse passado em outra época, eu juro que acharia que é baseado na vida da autora, ainda mais pela semelhança dos nomes.
Parecem ser livros rápidos de ler, porém com uma grande carga de aprendizado!
Menina, você falou de uma forma tão intensa sobre os livros que já coloquei na minha lista de desejados. Não conhecia nenhum dos livros, mas conheço a Carolina de Jesus justamente por conta de Quarto de Despejo (que ainda não li, mas que está nos desejados).
ResponderExcluirAdorei as dicas!
Beijos
aaaaaaaahhhh que legal!!!
ResponderExcluirAcho muito legal quando vejo uma literatura tão bem trabalhada assim e que enriquece tanto a gente. Adorei saber saber sobre essas histórias e o jeito que você falou sobre elas só me deixou com mais vontade ainda de ler! Porque mesmo não tendo lugar de fala nesses assuntos, gosto muito de entender os outros lados.
Olá! Tudo bem?
ResponderExcluirPrimeiro, parabéns pela parceria, não tive oportunidade de parabenizar antes.
Segundo, que obras lindas! Tanto na edição quanto no seu conteúdo. Não conhecia nenhuma das autoras citadas, mas fiquei instigada pelo primeiro, quando me descobri negra.
Beijos,
Blog Diversamente
Parabéns pela parceria! Adorei os títulos e o conteúdo que ambos entregam. Não conhecia, mas agora já estão na minha lista!
ResponderExcluirOii, tudo bem?
ResponderExcluirEu simplesmente amei sua resenha, super completa e tocante. Fiquei extremamente empolgada para ler os livros, parecem ser muito bem trabalhados, e os assuntos abordados na trama são muuuito importantes. Já coloquei na minha lista de desejados, preciso desses livros para ontem.
Obrigada por compartilhar!!
Beijinhos!!
Oi, que post maravilhoso! Que bom poder conhecer essas duas obras através da sua postagem. Quero muito ler algo da Carolina de Jesus e esse livro vai pros desejados, o primeiro também me encantou pelos seus comentários. Bom saber que as edições foram caprichadas. Ambos têm uma temática interessante e necessária.
ResponderExcluirpetalasdeliberdade.blogspot.com
Como é importante é ler literatura brasileira né. Que vem muito bem representada por duas gerações de escritoras. Eu amo a Carolina Maria de Jesus, pra mim "Quarto de despejo" deveria ser leitura obrigatória nas escolas, e sobretudo para quem tem interesse em se candidatar a algum cargo na política. A Bianca eu não conhecia, mas já deixei como desejado no Skoob. Os detalhes da foto que você postou chamaram minha atenção, gosto de ilustrações e também de edições caprichadas.
ResponderExcluirQue resenha incrível! Eu quero muito ler os dois livros, embora há anos sinta vontade de conhecer a Carolina de Jesus através de Quarto do Despejo. É muito triste que a situação não seja muito diferente do passado: o racismo segue existindo e hoje em dia falar sobre isso faz com que as pessoas que vivem numa espécie de bolha ou são simplesmente maldosas chamem de mimimi. Somos todos cidadãos, somos pessoas que deveriam ter direitos iguais, mas vemos que na realidade as coisas não são bem assim. Pessoas morrem simplesmente pela cor da pele, do mesmo modo que mulheres são assassinadas por serem mulheres. Já não aguento mais tanta maldade. :(
ResponderExcluirNão conhecia essas obras, mas confesso que fiquei super curioso para saber dessas histórias na íntegra, pois parecem ser muito surpreendentes. Excelentes dicas.
ResponderExcluirQue lindo este seu cuidado de ler Quando me descobri Negra como se degusta um prato saborosíssimo e como é uma obra empoderadora que vc gostaria de ter lido na adolescência, vou ler para trabalhar com os meus lindos e amados jovens. Amei a premissa do O diário de Bitita, ambos anotados para eu comprar logo logo.
ResponderExcluirBjo
Tânia Bueno
Olá
ResponderExcluirEu fiquei encantada com tamanha delicadeza da editora nos detalhes das edições.
O primeiro livro me despertou um grande interesse, porque não é minha realidade,mas pode me ensinar a compreender os problemas dos negros no Brasil e como de forma alguma devo agir com eles.
Beijos e espero as resenhas.
Oi Day! A gente que a representatividade importa demais e que cada pedacinho de livro e história que puder ajudar a nos enxergar como de fato somos, a aprender a nos reconhecer e a nos emponderar, é precioso. É triste saber que depois de tanta luta e dor, e mesmo sem a vitória, os tempos ruins estão voltando, tirando tudo que o negro sangrou para conseguir, e não estamos falando de migalhas, estamos falando de direitos. As duas obras me interessam muito, mas a segunda tocou mais profundo em mim. Saber um pouco da história da autora me deixou triste, e sabendo dos seus sentimentos com o primeiro livro dela, me deixou curiosa, porém com medo, porque sei que vou encontrar dor também. Agradeço muito as dicas, e espero ler muito em breve!
ResponderExcluirBjoxx ~ Aline ~ www.stalker-literaria.com ♥
Eu não conhecia a editora e já gostei bastante desses livros que você me apresentou, são obras muito necessárias e fiquei com vontade de ler.
ResponderExcluirnossa, devem ser duas leituras espetaculares. principalmente essa de Carolina de Jesus, eu fiquei muito curiosa pra ler vendo essa sinopse. Já anotei na wishlist... Tbm acho que em tempos sombrios como o que estamos vivendo, nesse cenário político caótico, é mais do que importante discutir pautas como racismo e afins... leituras desse tipo só nos fazem compreender ainda mais o nosso 'ao redor'...
ResponderExcluirbjs :D
Olá,
ResponderExcluirAh que coisa fofa parece ser o Quando me descobri negra. Ainda mais por ser algo de empoderamento indicado também para jovens, bem interessante. O material parece ser lindo também.
Debyh
Eu insisto
Oi Dayhara, como está?
ResponderExcluirLi essa resenha dupla e o coração aqui apertou como nunca por saber que esse preconceito lamentável ainda existe! Eu, como branca descendente de italianos e portugueses nascida no Sul do Brasil, nunca sofri preconceito racial, porém, já ouvi comentários machistas, ainda mais por gostar de muita coisa que a maioria considera "de homem". Mas quanto a racismo, não vou mentir: DÓI PRA PORRA quando fico sabendo desse tipo de situação ou vejo demonstrações dela em algum vídeo ou postagem. Não tem como ficar indiferente a uma injustiça dessas e muito menos se calar.
Abraços e beijos, Lady Trotsky...
http://osvampirosportenhos.blogspot.com
Olá!
ResponderExcluirEsses livros parecem ser muito marcantes, que nos fazem pensar, até porque é um algo que se comenta muito hoje em dia, que muitos acham que está mudando, mas infelizmente não é bem por aí. Falar sobre racismo, sobre autoestima, orgulho, empoderamento, força da mulher é algo que precisa ser dito todos os dias, pois a luta é diária. Dicas anotadissimas!
Nossa que post sensacional! Não conhecia as obras mas já irei procurar para ler o quanto antes.
ResponderExcluirAmei as dicas ♥ Um beijo.