Recentemente eu
falei sobre Palavras não ditas, lançamento da Mayra que parecia tanto conversar
com alguns assuntos que se tornaram mais latentes na quarentena, quando tudo
parece estar entalado em nossa garganta e as palavras parecem tão difíceis de
serem escritas, quando para nós meros mortais não é mais possível, Mayra vai lá
e faz, ou melhor, escreve. Pois bem, eu li o seu primeiro livro de poemas e não
poderia estar mais feliz por uma mulher negra conseguir colocar tanta força em
tudo que escreve, por conseguir externar situações que para nós, pertencentes a
minorias, parecem tão naturalizadas. Não há como você ler qualquer um dos seus
poemas sem sair mudado de algum modo, recebendo uma gama de sentimentos que te
levam de um extremo ao outro, essa é quase uma experiência visual sobre ser
negro no país que mais nos mata.
Desde a sua apresentação até o poema final
Mayra não faz questão nenhuma de nos envolver em um véu de proteção, o tempo
todo são assuntos reais, com dores reais e que nos provam como optar por não
ler assuntos mais pesados é um privilégio, já que independente da sua escolha
ou não, eles continuam acontecendo. São temas fortes, desde abuso sexual até amor,
sempre colocando a perspectiva racial como a temática principal, a poesia da
autora nos carrega por vivências tão distintas e ao mesmo tempo tão conectadas.
Mas então, o que Mayra tem de tão especial?
A autora vem sozinha realizando todo o
trabalho de divulgação da sua obra, sem grandes editoras, sem planos
mirabolantes de marketing, Mayra acredita na força da sua escrita como quem
acredita que respirar é o que nos mantém firme, e assim ela segue alcançando
cada vez mais pessoas, abrindo cada vez mais corações com uma caneta que vez ou
outra sorri, vez ou outra sangra. Conseguir ter sucesso no ramo editorial não é
fácil em nosso país, de maneira independente então nem se fala, mas nada disso
é motivo para desânimo, Mayra segue firme, livro após livro, contrariando
qualquer gráfico sobre negros no país, provando que a literatura nos salva muitas
vezes de nós mesmos, e tantas outras nos aproxima.
Durante toda a leitura eu me mantive focada,
porque os temas aqui tratados por uma mulher negra, eram próximos da minha
realidade, porque eu queria estar plenamente convicta de que iria absorver tudo
o que a autora tinha pra me dar, porque ancestralidade é isso, dar espaço para
o outro se expor, e ouvir. Eu digo com convicção que essa é só a primeira obra
da autora, que pulou do plano digital e felizmente vai se tornar livro físico,
porque Mayra tem força para mover o mundo, com sua vontade e suas palavras. Os poemas que mais me tocaram foram referentes aos corpos negros mortos pela violência
policial, porque diferente de tantos outros ela não floreou esse assunto,
mostrou exatamente como ele é, doloroso e presente, o tempo todo, poema sim e
poema também, mas como se nos fossemos permitido também, Mayra fala sobre amor,
nem sempre da perspectiva romântica, mas sempre nos dando espaço para viver o
que há de melhor.
Deixo aqui a minha dica, para você que deseja
apoiar mulheres negras independentes, pra você que sempre sente a necessidade de
provar algo que toque de dentro pra fora, Palavras não ditas é para você
que precisa urgentemente de algo para sentir.
Título: Palavras não ditas
Autora: Mayra Luz
Editora: Independente
Nº de Páginas: 89
Sinopse: "Você já se viu em uma situação, onde está engasgado com as suas palavras? Aquele momento em que tudo não dito, simplesmente vem à tona? Me vi nessa situação e recorri ao único meio que eu sabia de desabafar: escrever! PALAVRAS NÃO DITAS é uma coletânea de poesias, poemas e cartas, que falam de amor, raiva, dúvida, medo e tantos outros sentimentos que se cabe em um ser e estavam guardados dentro de mim."
*Essa postagem contém publicidade e também dialoga com minhas opiniões reais sobre o tema referente.